miércoles, 20 de abril de 2016

Nido



Hay días que, en el espacio pecera de mi mesa de trabajo, olvidada del aire y del mar, de la brisa y las piedras, de las hojas, absorta en una burbuja de aire acondicionado y luz eléctrica, me levanto de mi mesa y voy afuera unos instantes, a tiempo de ver de repente que es casi de noche pero todavía atardece. Todavía, a tiempo de ver el cielo rosa y malva con la última luz evanescente que es suave y dulce y fugaz. Solo unos instantes, como dejarse abrazar.Y después volver al trabajo.
Hay días en que estoy tan cansada que me sobreviene una tristeza casi al borde del llanto y hago el camino de vuelta  a casa como arrastrando las piernas. Un hueco apenas, un nido, zambullirme en agua cálida y sólo dejarme abrazar. 



sábado, 9 de abril de 2016

O começo



(...) un começo é essa inauguração grandiosa, mesmo se pequena, em que cada instante tem beleza e particularidade. (...) Não há responsabilidad no começo; é um prazer completo e maciço. O começo não quebra, não tem falhas, é um bloco de alegria. Mesmo que as coisas sejam feitas tateando-se, sem certeza nem razão, ainda assim elas são cabais. Cada passo mínimo que se dê já e completo. Pode ser que haja choro e temor, mas será com intensidade. Uma intensidade que dificilmente se sentirá outra vez. É por isso que o começador criança não quer outra coisa senão o começo."


"Se estiver muito preocupada com o começo, esqueça. Vá fazer outra coisa e, quando menos esperar ele aparecerá. (...) o começo surge do acaso. Na verdade, o começo é o próprio acaso; É ele que dispara todos os acontecimientos e sensações. Se você se prepara, nada acontece. Ou, no melhor dos casos, acontece de forma frustrante. Não almeje. Procure manter a disposição para a surpresa."


"O começo é um suicídio. É preciso arriscar-se para morrer. É preciso morrer de verdade. Abandonar o que se sabe, o que se conhece, o que se quer. Não se pode saber o que se quer. Entregar-se ao vazio e habita-lo sem paredes, teto ou chão. Cair indefinidamente, com o corpo descontrolado, agitando braços e pernas, com a cabeça contraida pelas marcas do vento, a boca aberta sem poder emitir palavra que faça sentido. O som mal chega a ecoar e ninguém vai ouvi-lo. Lá embaixo, não se vê nada; não se sabe se a queda final será na água, no fogo ou na pedra. Sequer se sabe se a queda terminará".
                                                                                  Noemi Jaffe, Livro dos começos